quem sou eu

13.12.19

Escute o ritmo de tua alma.

Acordo. Ainda nao clareou completamente. Neste lado do hemisferio norte, as manhas nao sao muito claras logo cedo. Se der sorte, tem luz do sol, mas os dias seguem enbranquecidos, acinzentados, cheios de nuvem, ar frio e umido. Bom pra ficar na cama dormindo um pouco mais. Bom pra olhar pela janela de dentro de casa e contemplar o ceu nublado.

Escute o ritmo de tua alma.

Levanto e a bebe que estava mamando chora, chama o aconchego. Levanta os bracinhos pra mostrar o que quer. Escorrem lagrimas. Mamae da'-lhe um beijo na testa, pega a roupa, o oculos e vai se vestir em outro comodo. Bebe chora por mais poucos instantes e papai esta' la pra acolhe-la e consola-la. Mamae se veste, escova os dentes, pega a bolsa, o ukulele, as lanterninhas da bike e sai. Pensa no frio cortante, na cama quente, na filha amada, no dia pela frente.

Escute o ritmo de tua alma.

Entra no trem, esta' um pouco cheio, a porta ja' vai fechar, e gosta de ficar proximo a porta, pra ver  o tempo la' fora, pra se distrair com a paisagem, pra ter a ilusao de que sera' a primeira a sair do trem, quando precisar. Segundos antes da porta se fechar mais tres pessoas entram, fica apertado, uma mulher entra ofegante, a porta se fecha, meu coracao dispara, meu sangue cora minha face, quero sair, quero gritar, tiro o casaco de frio, o cachecol, respiro "esta' acontecendo de novo, respira", vai passar, esta' passando. Alcame-se. Nao escutou o ritmo de tua alma?

Saio da estacao de trem e o onibus passou..7 minutos pro proximo, decido ir pegar um cafe. Nem tao bom, nem tao especial, mas quente, acolhedor. Chegando na escola, vestimentas natalinas, nariz de rena, parquinho de diversoes montado no patio, caixa de som pro lado de fora. Entendo que sera' um dia atipico, de festa, de quebra da rotina. Criancas falantes, contentes. E o dia trascorre entre gritos felizes, corridas energeticas, criancas escapando da aula de ukulele, feliz navidad tocando alto no recreio.

Escute o ritmo de tua alma.

No trem de volta pra casa assisto um filme sobre os bebes, 1000 dias de vida, da gestacao aos tres anos. Ja estamos na metade desses mil, eu acompanhando a vida dela, tanta coisa aconteceu e minha bebe cresce numa velocidade incrivel, uma beleza sem tamanho, uma saudade do que ja foi, um aperto no peito da rapidez com que tudo passa, mamae indo trabalhar, medo de perder o crescimento, cada passo novo, cada gesto novo. Como dar voz ao ritmo de sua alma? Ela consegue escuta-la mas nao consegue parar para ouvi-la.

Mais um trem que chega ao seu destino, a mensagem do marido: "Passa no supermercado". A saudade da filha em casa, o medo de estar perdendo horas dos mil dias de vida mais importantes da evolucao humana, a chuva caindo no capuz do casaco, a bike toda molhada. Choro. Quero casa, dar colo e receber comida. Quero estar la. Nao quero estar aqui. Quero parar. Ouvir. Ver. Apreciar.

No meio da rua, escuto o ritmo de minh'alma. Ela quer estar junto ao coracao de minha filha. Nao sabe no entanto, como fazer o corpo da mae reagir e parar um pouco. Deixar-se estar.