quem sou eu

26.2.10

Sono profundo

Ela está lá dentro de si mesma
Aprisionada em sonhos de momentos passados
Clama por liberdade
Chama pela morte
E permanece em silencio enquanto não a tem.

Os cabelos brancos estão limpos,
o lençol em que ela se deita é lavado
- dia após dia -
das manchas que escorrem de seu corpo
magro e sereno.

Os olhos azuis tampouco contemplam o céu,
enxergam a brancura da ausência de um caminho,
névoa sobrecarregada na terra,
passos cambaleantes e poucos.
A camisola se lhe escorrega pelos flancos.

A cada hora, um líquido na veia.
A cada intervalo, a medida da temperatura, pressão, inchasso.

Nas plantas dos pés, as ramificações avermelhadas
desordenadamente desenham-se sob a alvidez da pele.
Quando não há riso,
Não há choro,
Não há fantasia.

A luz que ora se reacende neste quarto
Não é a mesma que batia na janela de seu quintal
O quintal que era sua vida,
Suas plantas,
Suas roupas estendidas,
Seus afazeres que nunca tinham fim.

Quando as vozes no corredor soam alto,
Ela diz que é a reunião.
[são as enfermeiras discutindo acerca da medicina]
Quando escurece,
Ela pergunta se o filho já chegou.
Assim ela adormece em sua consciência,
aquela que nunca transcende,
jamais se esvazia.

Resta sempre
dentro de si.

Suspensa

A vida em escolha
entre ir-se
ou retornar
O que vem
só pode ser
Felicidade
Ensinamento
Som
Certeza
Sentido
Continuidade.
O fio
que puxa o corpo
pro eixo
está em laço
com a mente,
balança
se estende
Tem-se firme,
conciso.
A vida
se quer
fazer presente
embora se ausente
enquanto
no ar
está

Suspensa.

22.2.10

Alvidez

Água benta.
Pura e iluminada.
Lava um coração imperfeito.
Leva consigo manchas de impurezas,
dores incolores.
Veste-o como uma luva
protegendo do frio.
Salva-o de sua cor rubro sangue,
inundado de inquietações.

A completude de um ciclo;
a conversa franca e alva
como a água preenche os caminhos
que circundam o labirinto interno.
A boca pede mais que sorrir.
Saber falar
de dentro
daquilo que se sente,
de tudo que não se entende,
não se declara.
De sensações truncadas.
De desgosto amargo.
De tristeza sem culpa.


O movimento pede uma cadência,
momento da água se espalhar
deixá-la circular
em abrangência, a todos os lados rolar.
Tempo de limpeza clara,
como lençol molhado no varal tomando vento.

12.2.10

ã

solta o grito

QUERO me libertar

que a mente aprisiona conceitos

QUE A Mente enlouquece aos poucos

o vinho tinto misturado na água
o papel riscado de tinta azul


QUERO me esquecer


o mundo é o espaço imaginário
quem o imaginaria?


as cordas soltas do violão
trastes

O QUE cantam?


a voz ora enrouquece
depois respira e adormece


VAI quando Acordar?


nem de manhã
no amanhã de ontem.

11.2.10

manhã bocejo

ver o sino bater
a veneziana se abrir
ouvir o tom do grilar
sentir o cheiro do luar

{ainda noite]

por debaixo dos olhos
nasce o sol
lençol esparramado é o céu
nos sonhos, a claridade ri-se

véu do amanhecer
caindo sobre o sono;
silêncio com cantos
pássaro entre tantos

quem acorda e levanta,
criança.
café no coador,
irene preta.
cadeira de balanço,
avô.

a cama?
dorme...