quem sou eu

24.1.07

o sonho de poder ser


Simplesmente deitar na grama fresca, dormir com os olhos sonolentos de prazer.
Ele me faz falta, está distante. Mas sua lembrança me acompanha e meus caminhos me fazem acreditar que viver sem esperar traz o inevitável. Hoje não posso deixar a expectativa me fatigar demais, aliás ninguem pode, mas todo mundo sente. O cansaço do anseio de conseguir. A inquietação da necessidade de obter. Obter é uma palavra muito feia na idade contemporânea, e tudo que é contemporâneo demais perdeu seu valor primitivo. Sua essência verdadeira.
Eu quero o verde da terra. A umidade da sabedoria. Não quero esperar por nada, apenas encontrar.

18.1.07

sogni d'oro

depois de um inicial estado de observacao e constante questionamento sobre a paris mais bela de todos esses tempos, veio a perplexidade, o encantamento, a completa absorção da beleza limpa e clássica parisiense. certamente a beleza nos faz apaixonar, nos coloca em estado de êxtase passível, no qual abre-se os olhos somente pro deleite e fascínio de tudo que reflete com brilho no olhar.

sim, certamente a cidade tem sua forma mais sofisticada e inevitavelmente te envolve em seu cenário iluminado..durante todo esse tempo eu vivi todas as fantasias possíveis enquanto caminhava pela garoa fina. No meu último dia em paris eu deixei o cachecol em casa, precisava sentir o ar fresco roçando no meu pescoço, precisava deixar o colo sentir os últimos momentos de estar naquelas ruas sozinha, alimentando as vistas de um explendor exuberante, o que talvez não seja mais que perfeitas construções arquitetônicas.

estar na europa te faz dar um valor imenso à matéria, o que até certo ponto pode ser positivo, quando se tem em mente a criatividade e habilidade de tudo o que o pensamento foi capaz de concretizar. mas pra se sentir mais humano é preciso esquecer um pouco toda essa matéria também feita de ouro. pra quem todos os dias acorda e sai pra rua com tudo isso diante de si, talvez seja quase incompreensível o ato de despir-se dessa verdade.

em algum momento do dia preciso fazer a reflexão de que a alma continua valendo mais. senão a casa cai e o que pode restar são tijolos duros, pesados e antigos no meio do teu chão.

4.1.07

o buraco negro de paris iluminada

Todos os dias dicutimos sobre a podridao escondida na veias da cidade perfeita. Ideal de beleza, tudo bege e marom, placidez, linhas infinitas, luzes pra deixar a rua bem amarela refletindo a palidez das pessoas como se elas tivessem que ser vistas a todo momemnto, como se seus rostos fossem tao perfeitos que devessem estar clareados por holofotes magnificos. Mas a beleza nao nutre a verdade qe aparecem nos rostos mais negros.

De dia, na mesa de casa ou a noite na mesa do bar, a gente fala da xenofobia deste povo icone da filosofia, quem pensa sao os franceses, quem cria reflexoes mirabolaveis e faz auto-critica no cinema, com dialogos interminaveis, sao eles, que conhecem sua perversao, sua vontade de mandar os nao-franceses pra bem longe de suas portas. A gente repara e observa com o canto dos olhos o guarda estupido segurando forte no braco da negra, que implora pra voltar logo pra casa e cuidar da familia, enquanto o cara branquelo fica tentando mostrar que seu bilhete de trem esta' vencido e que isso e' o fim da picada.

Os negros tem expressao de batalha, de vida bem dividida, apesar de estarem lado a lado no banco do metro. as filas nos orgaos das embaixadas sao interminaveis e o sorriso insincero vem macio quando nao se quer fazer nada pela condicao do outro: je suis desolle'...e com tantos caminhos dificultuosos, os nao franceses querem viver aqui, porque a cidade e' quase perfeita se nao fossem os preconceitos humanos, porque ela oferece grana e faz muita grana flutuar, porque mais que a gloriosa arquitetura palacesca e toda uma tradicao monarquica, paris gera emprego e proporciona conforto pra quem estava acostumado a dormir na terra vermelha.

a contradicao esta' em toda parte, e os bairros do alto estao repletos de outros que nao os brancos e loiros. e os bairros nos altos sao cheios de vitalidade e originalidade, tem burburinho, tem cor de gente que anda na rua e te olha de vez em quando. tem produto com preco justo, tem atendente que te responde na sua propria lingua, com muito prazer.

1.1.07

vem pra ficar? ouii avec moi

dans le vie et sour la lune

se tu quiseres me ouvir
te achegues que o que eu vou-te dizer
talvez faça sentido
talvez te fascine ou te embriague
minha voz a ti não chega
meu coração talvez te toque
brilha a pupila grande redonda
negra como as noites sem luar
meus olhos estão dilatados
profundo é sentir como teus olhos
permancem como a noite e sua longuidez
escureceu às 17h
só vai clarear as 9h em paris
é assim
a brancura pinta o quadro
da cidade
fria e charmosa
ano que inicia
champanhe francês
nenhum fogos de artifício ruiu
alguns doces tomei
nem sequer tua voz ouvi
mas teus olhos vi
dentro aqui coleciono olhares
dentro de ti te invado sorrindo
fora de tudo a lua cantando
a rua dançando
meu coração balançando
e todas as canções brindando
a felicidade de ver-te sorrir sempre chegando

bone nadal

Em catalão se diz assim.
"felices fiestas" já soa familiar e o catalão vem misturar francês, espanhol e português. É exquisito!
O natal foi atipico: hall da casa de pelo menos 150 anos, pintado de laranja. Corredor vermelho, acesso à cozinha verde, eenoorrme, com um cantinho da amizade: grafia japonesa colada na parede e três poemas de Pablo Nerruda na parede de azulejos bem decorados. uU dos donos da casa, um galego-português, disse que as lia todas as manhâs, para não se esquecer de que "El mar ès movimiento y plenitud, vida y illusion".
Seguindo o corredor vermelho, sala amarela e azul, ampla, sofás rasteiros, brancos, almofadas verdes. O piso era de madeira, perfeito para a noite de bailo! Mais uma sala marrom, almofadas no chão e chaminé! ahh, muy buena, fuego en mis ojos, calor en mi corazón...a porta de vidro se abria para uma varandinha e dela para os telhados ao redor. Dos telhados para o céu imenso azul-marinho...noite fria, cavas (vinho espumante!) nas taças, das taças para as mãos, das mãos para os lábios, dos lábios para o corpo, inebriando a mente.
Todos estavam sorrindo, longe de suas casas, contentes pelas novas e inusitadas companhias, admiradores de Barcelona - la ciudad de la liberdad.
Fomos presenteados com a luz do dia. Borrou-se o céu de azul turquesa. No caminho de casa pelas largas avenidas, últimas risadas na noite natalina.