Foram descalços até o cume daquela região ondulada e o mestre falou para seu guru:
-Estás vendo aquela árvore logo adiante, frondosa, elegante com seus galhos rumo ao céu, imagines o quanto de energia ela precisa extrair da terra pra sustentar-se e alimentar todos os seus labirintos; imagine quanta luz ela absorve pra continuar exuberante com seu porte!
O aprendiz mirou a árvore e continuou calado.
-Agora vejas aquela planta miúda, logo abaixo, na sombra da árvore. Repares bem no seu tamanho, na sua minusculosidade. Ela não precisa de tanta luz, nem de tanto alimento. Talvez ela seja mais suscetível a fragilizar-se com as constantes oscilações do tempo; com certeza ela é desapercebida por todos que por ela passam. No entanto, o que faz com que ela seja comparada à árvore? Por que dizer que uma é pior ou mais fraca do que a outra?
O discípulo ascenava um movimento leve pra frente e pra trás com a cabeça e seu acarya continuou:
-Não se deve olhar com pena para quem não precisou esforçar-se para crescer, se sua natureza não lhe permite que seja mais do que isso. Apenas o necessário pra sobreviver e ainda assim, na sombra.
O ouvinte levantou-se da pedra onde até então descansava, caminhou em direção à planta da parábola e quando aproximou-se, já no entardecer, sentiu suas vistas se encherem de um fosflorescente. Era de um amarelo vivo, com pintinhas caramelo e leves riscos avermelhados da flor que habitava naquela planta. Entendeu que a planta somente atrairia olhares de quem estivesse realmente atento a descobrí-la. A quem tivesse sido presenteado, por alguma razão, com aquela imagem tão delicada e singela.
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