quem sou eu

28.6.08

O amor ensina

Outro dia um cara que só me conhece dos anos em que nos encontrávamos no caminho para a faculdade, me perguntou, segurando minha cabeça: "O que você quer da sua vida garota?" Aquela pergunta vinha para me assustar, mas pelo contrário, a resposta foi imediata: "Eu quero viver apenas". Deposi seguiram-se horas de discussões intermináveis sobre o futuro das velhas e novas gerações, sobre a tecnologia nos países desenvolvidos, sobre a modernidade na China, sobre a inconsciência política dos problemas no Brasil. Ele passou anos da vida acreditando na ambição, ensinando os outros a terem ambição, porque afinal, conseguir as coisas é o objetivo do desenvolver da humanidade. Mas dentre todos os questionamentos que fizemos, o que mais me deixou abismada foi a pergunta que ele me havia feito. Como assim? O que ele quer insinuar? Eu estou partindo para mais uma viagem no exterior, a segunda em menos 10 meses após eu ter regressado de uma vivência que fiz durante um ano, num país da Europa. Não que eu ache que a Europa seja a solução dos milagres, o paraíso dos deuses, a perfeição dos homens. Nada disso. Muito pelo contrário, a perfeição é tão superficial que às vezes dá nojo. Mas existe um elo entre uma vida intelectual estagnada e a procura sendenta por vida mais pulsante que me deixou intrigada e talvez esteja me fazendo voltar pra lá. Porque as pessoas de lá não sabem o que é miséria social e pureza de espírito. Nem o que é lavrar a terra com os próprios pés. Assim como os brasileiros não sabem o que é tranquilidade social e respeito mútuo. Ainda preciso trocar muito com eles para sentir que ambos os lados estejam aprendendo e melhorando com essa troca. Ninguém pode ser tão bitolado a ponto de pensar que abrir os olhos pra cultura do outro é insignificante. Quase respondi a ele com uma outra pergunta, "e quem faz todo dia a mesma coisa, pega o mesmo ônibus, senta na frente do mesmo computador, exerce os mesmos programas, volta pra casa no mesmo horário de trânsito e assiste as mesmas novelas, quer o quê da vida?" Oras, aquilo me intrigou. Mas o que sucedeu-se não foi a pergunta, foi aquela resposta simples e imediata, que veio precedida da voz dele: "Você precisa ter ambição. Você precisa ter sonhos." Eu já sabia que ele era meio equivocado quanto à sua forma de julgar a minha vida, mas a partir dessas palavras eu percebi que ele não alimentava algo fundamental: seu próprio espírito. E quando eu falei pra ele cuidar do espírito ele disse: "Eu não ligo pra isso, ando meio sem tempo". Então eu não quis insistir e deixei de pensar que talvez eu estivesse errada mesmo, sem sequer zelar por algum tipo de ambição de "coisas". Dessa vida, nada se leva. O amor fica. O amor ensina.

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