quem sou eu

7.9.08

Universos que nao nos pertencem

Estar em outro pais e' escutar historias que lembram aqueles filmes sobre a vida de alguem que ja se enfiou no fundo do abismo, com dias initerruptos de drogas injetaveis, os olhos revirando numa euforia descartavel que se lanca incontrolavelmente no jardim de alucinacoes mirabolaveis, depois rasteja incondicionalmente fincando suas garras na pele de quem precisa consumir uma outra porcao, os olhos nunca voltam ao seu branco aparente, riscos avermelhados estilhassam nas suas janelas. Alguns anos podem se passar sem que um dia limpo possa intervir na lembranca de quem soube o que era estar em paz. Pode-se tropecar com passos cambaleantes que amolecem as pernas, curvam a coluna, fazem o corpo espiralar quando um sorriso relaxado invade a feicao de quem quer passar seus estados de extase fora do universo comum, nao importa onde esteja, se o palco de suas realizacoes for um liquido que faz seu corpo extremecer, vibrar numa compulsao louca de uma energia exorbitante.
Um corpo pode ser esvaziado e ceder lugar a uma apropriacao de qualquer especie. Seus labirintos sao explorados com as toxinas que lhe possam trazer sensacoes indescritiveis, e a vida pode virar um trunfo de sensacoes que nao cabem em palavras, uma alternancia de dor e cor, parece que tudo brilha e ofusca os olhos, parece que tudo fica palido e sombrio, quando o peso do corpo cede 'a gravidade do chao umido e frio, e as pernas ficam desordenadas como se nao fizessem parte de um conjunto harmonioso que e' o corpo humano.
Quando ouve-se as historias de vidas que sugaram o verde-escuro de frias estacoes do ano, a mente recria o filme das cenas mais confusas tecendo as verdades que nunca se completam porque sao ilusoes na cabeca de quem delira. Depois de um tempo vem a fragilidade, o caos, o inferno queimando todas as veias que ardem incessantemente. A dor que tambem alucina, o grito da angustia, o sofrimento de alguem que nao sabe mais onde foi parar sua vida.
Alguem reconta uma tragetoria e ainda esta' jovem, mas sente o estremecer de um passado recente e borrado com cores indefinidas. Esse mesmo alguem busca respirar, olha o passado com receio de ter envelhecido muitos anos e lembra-se da dor com um fio de remorso sobre si mesmo.
O mundo interno traz tantos universos que nem sempre nos pertencem.

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