"Sinto que ele está triste" - disse Amalia. "Faz dias que não me olha nos olhos, não tem sorrido muito, a cabeça cabisbaixa pelos corredores da casa. Quando entro no quarto ele está jogando video-game, coisa que nunca faz, só quando nao tem nada pra fazer".
Ariela continuava a fitá-la, ouvindo-a atentamente. Então prosseguiu "Eu acho que ele está descobrindo. Está percebendo que talvez eu não seja a mulher que ele tanto desejou, porque eu nem provoco mais desejo nele. Há um mes estamos sem transar, voce sabe o que é isso?" Ariela desviou o olhar de Amalia para o clarão que desapareceu no chão do quarto, mais uma nuvem tinha vindo cobrir o sol. "Simplesmente não sabemos como despertar o prazer erótico um no outro" Continuou a dizer com palavras e mãos articulando. Deu uma pausa e uma longa piscada. "Nao sei se eu devo insistir. Toda vez que estou nua diante dele, parece que meu corpo não tem vida, cada parte é a mesma num todo, nada vibra, nada se aquece, nem um pedacinho de pele. As poucas vezes que ele me beijou eu não o desejei e logo ele parou de me beijar."
"Voce tentou dizer a ele que queria ser tocada de outra forma?" quis saber Ariela. Olhou para a janela, viu a sombra da árvore que vinha de fora e balançou a testa "Falamos algumas vezes sobre isso, mas eu não gosto muito. O que vou ficar repetindo? Meu amor, eu te amo mas voce nao me dá tesão? Oras, ninguem quer ouvir isso Ariela, eu sei que ele também não quer. Eu teria que chegar com a solução nas mãos, te-las na bandeija e serví-lo, mas enquanto eu não o oferecer isso, ele vai repetir a mesma coisa das outras conversas, que o prazer deve ser uma coisa espontanea, que um corpo saudavel sente prazer, que eu deveria ir procurar ajuda..." Suspirou.
Ariela então continuou. "Olhe, mesmo assim, isso não justifica o teu silencio. Voce tem que falar, tem que dizer o que quer e que não quer, o que gosta e o que não gosta. O pior numa relacao é a falta de comunicação, seja pras coisas positivas quanto pras negativas. Desse silencio pode virar um deserto e voces podem se chatear muito mais que se tivessem conversado. Um deserto pode matar tanto de frio quanto de calor. Tanto de seca quanto de vento."
Amalia mordeu os lábios, franziu levemente a testa, olhou pro teto. "Eu queria deseja-lo. Eu queria que ele me tocasse e fossemos à loucura. Eu não posso mais viver pensando que eternamente seremos mornos, casados com uma vida sexual estagnada, eu não posso me repetir isso todos os dias." E virou bruscamente a cabeça para o lado, em desaprovação. "Então mexa-se Amalia. Diga, grite, esperneie, faça qualquer coisa ou destrua seu casamento, deixe-o morrer lentamente e veja todos os dias um olhar que não te fita porque perdeu a confiança. Não confia porque não ouve sequer a verdade. Esclaresce amiga, isso é importante, ou voce quer continuar a ve-lo entristescer cada vez mais?" A pergunta ficou ressoando como um eco nos ouvidos de Amalia. Dentro de si, sabia perfeitamente que não queria ve-lo sofrer, mas que estava fazendo como se estivesse de olhos tapados, fingindo nao enxergar que ele sofria, e muito. "Tens razão. Vou dizer, nao sei bem como começar e nem sei no que isso vai terminar, mas ser fiel é ser verdadeiro."
Abriram a janela e foram ver o sol que voltava a aparecer por entre as nuvens.
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