Ela está lá dentro de si mesma
Aprisionada em sonhos de momentos passados
Clama por liberdade
Chama pela morte
E permanece em silencio enquanto não a tem.
Os cabelos brancos estão limpos,
o lençol em que ela se deita é lavado
- dia após dia -
das manchas que escorrem de seu corpo
magro e sereno.
Os olhos azuis tampouco contemplam o céu,
enxergam a brancura da ausência de um caminho,
névoa sobrecarregada na terra,
passos cambaleantes e poucos.
A camisola se lhe escorrega pelos flancos.
A cada hora, um líquido na veia.
A cada intervalo, a medida da temperatura, pressão, inchasso.
Nas plantas dos pés, as ramificações avermelhadas
desordenadamente desenham-se sob a alvidez da pele.
Quando não há riso,
Não há choro,
Não há fantasia.
A luz que ora se reacende neste quarto
Não é a mesma que batia na janela de seu quintal
O quintal que era sua vida,
Suas plantas,
Suas roupas estendidas,
Seus afazeres que nunca tinham fim.
Quando as vozes no corredor soam alto,
Ela diz que é a reunião.
[são as enfermeiras discutindo acerca da medicina]
Quando escurece,
Ela pergunta se o filho já chegou.
Assim ela adormece em sua consciência,
aquela que nunca transcende,
jamais se esvazia.
Resta sempre
dentro de si.
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