Sai de dentro dos corpos a dança, o mote, a razão do movimento, a leveza que se faz intensa, pés que giram em ponta, articulações estão soltas.
São muitas as quedas, o barulho do corpo ao chão, a força da gravidade que os puxa, o incômodo de vê-los cair, a dor de quem não a sente, a dor supostamente sentida para quem cai, os tombos que acontecem na vida. Um tombo e depois mais outro.
O espetáculo de dança Corpos Frágeis reverencia a força - em oposição, a fragilidade feminina nos braços de quem as protege - às vezes. Uma mulher segura um candelabro enquanto a outra se despi. Um homem começa a fazer um colar enfiando as miçangas pelo fio e depois outros revezam o feitio. O artesanato que passa de mãos em mãos, tudo que se inicia,completa-se em continuidade. O colar se rebenta, as miçangas se espalham no palco, fragmentos de uma obra, os corpos em meio à destruição. A peça é a rotação dos sofrimentos humanos. A delicadeza em cada ato, a violência do não-estático.
Como se um corpo quisesse partir, mas tendo que ficar resolvesse não ir. Ou não tendo que ir determinasse voltar; querendo ficar decidisse partir; com medo de seguir, segurasse as pernas pra não ir. Vindo e não indo. Indo e logo voltando. A não auto-permissão. O estilhaço. Quem se permite ser feliz, o é. Mas de quantas falhas são feitas os homens que arrancam as próprias pernas para não mais prosseguirem? Quantas são as mulheres que amarram seus braços para não mais abrí-los ao céu?
É a dança da não-liberdade, mesmo que seja involuntário dos corpos ir buscar por ela. Na beleza de cada e todo movimento, expressão. De tudo que não se fala e muito se vê. De como pode ser bonito fragmentar o que causa dor, até que tudo recomece.
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