Ter uma plateia enlouquecida na sua frente e sorrir.
Cantar sorrindo e dancar fechando os olhos.
Nao da pra manter os olhos fechados quando existe um mundareu de gente te olhando com euforia. No meio da multidao nada e' real. Tudo em movimento, todos os bracos e acenos, todas as camisas coloridas e as garrafas cintilantes das bebidas consumidas.
No porao medieval, a balada underground londrina, onde as pessoas soltam suas vontades, seus ais, seus desejos pela danca, pelo corpo que reverencia musica, pelo canto da garganta profunda. E' noite escura, sao luzes e sombras refletidas nas paredes umidas por debaixo da terra. Retumbante e reverberante e' o som que sai das caixas. Estamos os quatro no palco, eu e mais tres que me acompanham nesta saga musical. Temos o nome de uma arvore sagrada, Pe-de-Jurema. Estamos apaixonados por cada toque. Estamos vibrando em cada coro que cantamos. O mais lunatico dos integrantes conversa com a plateia como se estivesse na sala de casa. O mais alto toca como se as mulheres mais bonitas do mundo estivessem olhando pra ele. O outro canta como se estivesse na rua junto com os amigos que mais ama. Eu abro e fecho os olhos, eu e os cablocos da Jurema, como num delirio continuo, feito de cores e imagens levemente distorcidas. Eu nao nasci de oculos e nao uso lentes. O que meus olhos veem pode ser puro brilho.
A arvore que vai crescendo. As folhas sagradas vao sendo curtidas. A madeira queimada exala o aroma do axe. A bebida de Jurema traz a riqueza da musica e dos rituais.
Ie..."Jurema..a mais linda flor do meu sertao..."
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