Chegara a hora do parto. A futura mae nao sabia muito bem o que estava por vir. Havia lido sobre respiracao, contracoes, forca do ventre, escuta do coracao, concentracao, agachamento, posicao de cocoras, e mais uma porcao de informacoes para a preparacao na hora da vinda. A tao esperada hora. Quem disse que ouvir historias atenua o sofrimento do outro?
Cada ser com a sua experiencia. A mae da maebarriguda, havia dito que parto natural em casa era o melhor a se fazer e que ali, naquela mesma casa dera 'a luz a tres lindas criaturas saudaveis, inclusive a sua filha que horas depois 'aquelas tao sofridas, tornaria-se mae pela primeira vez. Conversa de mae, entretanto, vale a pena ouvir e concordar. Fez-se entao o contato com a primeira parteira, cujo pre-natal teria sido bem tranquilizante, nao fosse a sua partida 5 dias antes do bebe dar sinal de querer sair de dentro.
Fez-se entao o contato com a segunda parteira. Muito doce, muito traquila. Chegara na casa, no dia da luz, as dez da manha, de mala e cuia, tudo preparado, soro de emergencia, vidrinhos, seringas, luvas, gel, escutador de coracao de bebe. Esse era seu aparato mais importante, o colocava na barriga da mae e sabia o quanto ainda poderia esperar, o quanto o bebe resistia e vibrava naquele ciclo de contracoes doidas.
A dor foi aumentando. A dor tornou-se o centro das atencoes, quando a saida do bebe deveria ser o foco. Mas o foco nao depende somente do olhar. A dor fe-la enlouquecer. Berros, sussuros e berros. Havia panico nos gritos, havia medo, havia tristeza e muita dor, tudo misturado com o fato da propria inaptidao de nunca ter feito aquilo antes, da relutancia ao repetir a si mesma "Nao vou conseguir". Do meio-dia 'as cinco da tarde tudo parecia desespero. A parteira, sempre um doce. A Flor, amiga da garota barriguda ainda que em prantos silenciosos, fazia de tudo para encoraja-la. O futuro pai a amparava com seus ombros, seu colo, seu olhar tenro, sua voz mansa e carinhosa. A mae queria protejer a propria filha, mas comecou a ficar tensa, assim como a sogra que orava, de um lado para o outro, a todos os santos e astros para as bencaos dos ceus.
Tanta dor, meu pai do ceu. A familia prometendo e cumprindo a ajuda envolta dela. Todos assistindo tudo sem entender ao certo, queriam ver o bebe vivo e o trabalho terminado. Seria melhor a todos. A gestante, no entanto, entrou no seu redemoinho doloroso, e la ficou aninhada por todas aquelas horas, um processo todo seu de sofrer, de deixar-se doer, de externalizar os gritos, de segurar e soltar suas tensoes, um revival de tudo que havia sido sua gravidez, um drama com final feliz, uma tragedia comica, uma possivel beleza na sua vida acrescida de incertezas.
O tempo chega pra cada qual. Nao foi diferente com ela. A parteira decidiu agir em prol de todos e sussurrando quando a mae da gestante saiu do quarto, encarou o desafio: "Voce segura aperna dela de ca, a Flor de la', o pai, empurra a barriga assim e, vo', segura as maos dela envolta dos pescoco do pai" e quando veio a contracao, ouviu-se alto e forte "Segura o grito menina, faz essa forca pra baixo, empurra" entao o bebe veio, de uma vez. Havia duas horas que se via o cabelo na porta da saida, mas, como o nome diz, um parto e' um parto!
Aprendiz de parteira e da vida: nao se pode adiar os fatos. Quanto mais demorado, mais dolorido fica. Deixa tudo ir, com a forca que e' preciso ter.
quem sou eu
28.4.11
27.4.11
Riso da liberdade
Jogou fora muitas cartas de amor. N]ao soube ao certo que sentimento lhe veio à tona para tal ato, tão decidido, pouco pensado e, de instantaneo, resolvido. Enquanto as relia rapidamente, ria de alguma coisa que não era mais verdade. Tudo havia passado. Os medos, as vontades proibidas, a dor, a paixão vermelha, o tesão guardado - ou consumado. Ria da liberdade de não mais sofrer. Ria das palavras que escolhera escrever em suas cartas, fina ironia feminina, aos poucos insinuava sutilmente, que tudo estaria bem naquele momento, quando na verdade sentira vontade morrer.
Sim, ela lembrou-se, sem culpa, dos foguetes que já se foram. E apagou muitas cartas, sem dó, nem remorso. Os segredos deixaram de ser segredos. E se fossem revelados um dia? Sentiria-se penalizada pelo tempo. Mas agora passou.
Sim, ela lembrou-se, sem culpa, dos foguetes que já se foram. E apagou muitas cartas, sem dó, nem remorso. Os segredos deixaram de ser segredos. E se fossem revelados um dia? Sentiria-se penalizada pelo tempo. Mas agora passou.
21.4.11
A sombra e suas vizinhas
Acordou e nao quis se levantar. Tentou rezar, dormir novemente, ignorar a luz do dia, sonhar outra vez, beijar o namorado dormindo ao lado. Nada. Os pensamentos vinham, sombra de si mesma, vinham numa avalanche, passavam, uns voltavam, outros seguiam flutuando, e no meio de tanta confusao resolveu levantar-se, tomar agua e sentar-se ao sol.
Era uma manha ensolarada, deveria estar feliz por isso, sempre em busca pela felicidade simples, mas nao conseguia. O que era felicidade simples naquele momento de sua vida? Nao sabia responder; outrora havia sido voltar a ver sua mae; depois ter um trabalho com criancas; depois dormir na areia e caminhar nela durante o dia, e assim foi, felicidade simples. E de um dia pro outro, num retorno aquela casa tao pouco sua, ELA se perguntava por onde escapara a felicidade simples.
Logo depois aproximou-se da casa da culpa. Ah! antiga certeira, sempre ali, mesmo escondida, vez ou outra aparecendo, bem naquela manha que poderia ser a mais bonita ou a mais normal como outras haviam sido. A culpa por algum caminho que com o tempo se tornou secreto, quase ninguem a ve caminhar por ali, parece que vai so', fala pouco do que ve, demora pra voltar e ainda tem certas duvidas se o caminho e' bom mesmo, por mais que pareca.
Entao, vizinha da culpa mora a duvida. Gostam de estarem ali, para o que der e vier. Infernizam um bocado em manha como estas, vazias de espirito e repleta de sombras contidas. As sombras contidas sao aquelas que de tanto espremidas, ficam inchadas e gordas, escapando do seu espaco e invadindo outros.
Mesmo com todos esses moradores, o sol venceu e ELA foi de bicicleta ate' a biblioteca. La, por acaso encontrou uma amiga que esperava por outra amiga e foram tomar um cafe. No cafe, a amiga contou que havia feito uma danca muito particular, xamanica e que tinha durado muitas horas. No dia seguinte, havia reparado que existira uma sombra muito extensa dentro da sala de danca e ao comentar com o instrutor, descobriu que ele tambem havia percebido.
"A sombra e' tudo que voce enxerga dentro de voce - e nao gosta- mas esconde aos olhos dos outros. Pode ser que voce tente esconde-la de si mesma, mas normalmente, voce a enxerga, a rejeita por ignorancia, acredita que va desaparecer pois e' um sentimento que nao gosta de mostrar, nem de ver, nem de deixar os outros virem. Mas, sem recursos, ela nao some. "
O recurso no caso da amiga tinha sido o curso de danca. Tinha um olhar ainda meio aturdido, mas parecia ter se livrado de uma daquelas. ELA entao, pensou na preguica que sentia aquela manha, na culpa por nao ter a felicidade simples, na sombra que se tornara imensa por tanta ignorancia, suspeita de si propria, falta de estima. Nem sabe ao certo quem nao a estima, mas todo mundo tem questoes consigo proprio.Para reslve-las talvez precise de um terapeuta que lhe diga:" Isso,apesar de parecer louco, voce esta' no caminho certo!"
Era uma manha ensolarada, deveria estar feliz por isso, sempre em busca pela felicidade simples, mas nao conseguia. O que era felicidade simples naquele momento de sua vida? Nao sabia responder; outrora havia sido voltar a ver sua mae; depois ter um trabalho com criancas; depois dormir na areia e caminhar nela durante o dia, e assim foi, felicidade simples. E de um dia pro outro, num retorno aquela casa tao pouco sua, ELA se perguntava por onde escapara a felicidade simples.
Logo depois aproximou-se da casa da culpa. Ah! antiga certeira, sempre ali, mesmo escondida, vez ou outra aparecendo, bem naquela manha que poderia ser a mais bonita ou a mais normal como outras haviam sido. A culpa por algum caminho que com o tempo se tornou secreto, quase ninguem a ve caminhar por ali, parece que vai so', fala pouco do que ve, demora pra voltar e ainda tem certas duvidas se o caminho e' bom mesmo, por mais que pareca.
Entao, vizinha da culpa mora a duvida. Gostam de estarem ali, para o que der e vier. Infernizam um bocado em manha como estas, vazias de espirito e repleta de sombras contidas. As sombras contidas sao aquelas que de tanto espremidas, ficam inchadas e gordas, escapando do seu espaco e invadindo outros.
Mesmo com todos esses moradores, o sol venceu e ELA foi de bicicleta ate' a biblioteca. La, por acaso encontrou uma amiga que esperava por outra amiga e foram tomar um cafe. No cafe, a amiga contou que havia feito uma danca muito particular, xamanica e que tinha durado muitas horas. No dia seguinte, havia reparado que existira uma sombra muito extensa dentro da sala de danca e ao comentar com o instrutor, descobriu que ele tambem havia percebido.
"A sombra e' tudo que voce enxerga dentro de voce - e nao gosta- mas esconde aos olhos dos outros. Pode ser que voce tente esconde-la de si mesma, mas normalmente, voce a enxerga, a rejeita por ignorancia, acredita que va desaparecer pois e' um sentimento que nao gosta de mostrar, nem de ver, nem de deixar os outros virem. Mas, sem recursos, ela nao some. "
O recurso no caso da amiga tinha sido o curso de danca. Tinha um olhar ainda meio aturdido, mas parecia ter se livrado de uma daquelas. ELA entao, pensou na preguica que sentia aquela manha, na culpa por nao ter a felicidade simples, na sombra que se tornara imensa por tanta ignorancia, suspeita de si propria, falta de estima. Nem sabe ao certo quem nao a estima, mas todo mundo tem questoes consigo proprio.Para reslve-las talvez precise de um terapeuta que lhe diga:" Isso,apesar de parecer louco, voce esta' no caminho certo!"
19.4.11
Regresso II
Entretanto chegou chorando.
Conhecia aquela dor,
uma dor que não é pequena
nem grande
parecendo não haver tamanho
algo como um espaço que ocupa
neutralizando as sensações
desprovocando a curiosidade
extasiando a vontade
esmorrecendo o ímpeto
e finalmente
acalentando o sono.
Aquela dor já conhecida
lhe provocava sono,
fino prazer dos olhos molhados
e levemente inchados;
o nariz a escorrer,
a cabeça enfadada ao travesseiro
as pernas e o tronco
encolhidos como caramujo
para proteger-se.
A proteção é fictícia.
A dor talvez não.
Quando a sente,
não sabe bem raciocinar,
nem dizer, nem buscar palavras.
Fica ali, se banhando,
achando que não vai passar,
que tudo está errado,
que os sonhos nunca mais voltarão,
e que a saudade se amontoa em cima de gente que acorda distante.
Portanto, deixou-se levar.
Até que o sono veio e apagou tudo.
Conhecia aquela dor,
uma dor que não é pequena
nem grande
parecendo não haver tamanho
algo como um espaço que ocupa
neutralizando as sensações
desprovocando a curiosidade
extasiando a vontade
esmorrecendo o ímpeto
e finalmente
acalentando o sono.
Aquela dor já conhecida
lhe provocava sono,
fino prazer dos olhos molhados
e levemente inchados;
o nariz a escorrer,
a cabeça enfadada ao travesseiro
as pernas e o tronco
encolhidos como caramujo
para proteger-se.
A proteção é fictícia.
A dor talvez não.
Quando a sente,
não sabe bem raciocinar,
nem dizer, nem buscar palavras.
Fica ali, se banhando,
achando que não vai passar,
que tudo está errado,
que os sonhos nunca mais voltarão,
e que a saudade se amontoa em cima de gente que acorda distante.
Portanto, deixou-se levar.
Até que o sono veio e apagou tudo.
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