Numa manhá chuvosa, daquelas que a natureza diz para ficares calado e quem sabe cantar um mantra, saudar os deuses dormentes, que sentir os deuses é ter entusiasmo, ter entusiasmo é sentir que eles estão presentes no ar, na água, no céu, na beleza, na chuva, na voz, em cada movimento. Saudade de ver o mar, a beleza do movimento, das cores, da força e vivissitude.
Numa manhã de mormasso, quando a chuva foi passando, recebi uma carta. Era de um tom um pouco melancólico, contava do segredo que habita um coração que ama em silêncio, por tanto tempo que se passou, nem sabe ao certo medir. Gostaria para esse amigo dispor de muitas horas, pra conversar e dizer-lhe que o amor se transforma a todo momento, nem tampouco perdemos as pessoas quando elas morrem. Nossa alma fica ainda mais proxima do amor pelo outro, o que em vida só parece acontecer quando os olhos veem. Eis a beleza de almas que se encontram sem palavras, nem olhares, nem gestos.
Numa manhã cujo sol despontava tão lentamente que parecia um parto demorado, lembrei da joia do sentimento puro de estar ao lado de um amigo. Rindo, dançando uma valsa alegre e pouco triste, que todas as valsas são um tanto tristes, descobrindo segredos, despindo-se de outros afazeres, respirando o momento, escutando uma musica junto, partilhando estorias, tomando café e o que a imaginação permitir na felicidade de uma companhia verdadeira.
Numa manhã qualquer, procurando um sentido que fizesse o tempo parar, ele diz ter recebido o presente mais bonito de uma Chapada inteira: meu sorriso. Tendo lido esta parte da carta, sorri loucamente, intuindo a imensidão daquele gesto tão pequeno para mim, mas puro e sincero, esbanjado de amor e saúde.
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