quem sou eu

6.10.08

Presentes e presencas

O bar nao era um bar qualquer. Do lado de fora dava pra ver uma luz amarelada e uma porta verde dando pra um pequeno jardim. Ao aproximar-me da porta, ouvi o som do piano, macio, percorrendo as teclas numa noite fria e azul. Entrei no bar e um cheiro de comida casieira invadiu as narinas, junto com um vapor de ambiente quente, "pretty warm", como dizem os ingleses. Cheiro de ervas e temperos, adocicados, levemente picantes. Dei tres passos e a musica acabou, olhei a pianista de soslaio e logo vi seu sorriso em agradecimento às palmas. Ela vestia uma meia-calça colorida, com uma saia acima do joelho e uma botinha de camurça. Nos demos um abraço e ela logo voltou ao seu banco para tocar outra musica, mas antes me apresentou sua mãe, uma senhora de cabelos brancos encaracolados, finos e esvoacantes. Ela acabara de chegar de viagem de Israel, tinha feito 4 horas de avião, mais duas horas de transito da cidade até o aeroporto. Estava com os olhos cansados, no entanto sorria pausadamente. Olhava a filha tocar piano. Fazia 9 meses que mãe e filha não se viam. Conversamos sobre o tempo em Israel, ela disse que estava calor, enquanto aqui a temperatura cai a cada dia, com vento frio e garoas constantes. Ela me perguntou se eu não gostaria de ir a Israel um dia, e eu respondi que sim, mesmo sem nunca ter pensado muito nisso efetivamente. É engraçado como a vida vai tecendo seus fios e de um momento ao outro você passa a pensar em lugares que nunca lhe trouxeram outras informações a nao ser as mesmas que a midia nos apresenta. Mas de repente você passa a conviver com pessoas de um certo pais, voce ouvê suas linguas, experimenta sua culinaria, ouve suas musicas, observa seus comportamentos.
"Ha mais instrumentos embaixo da mesa" me diz a pianista. "Toque-os quando quiser". Após um suco de limonada rosa, especialidade da casa, me levantei e fui ao lado dela com leves instrumentos percussivos comecei a acompanhá-la e logo estávamos entretidas tocando musica folclorica israelense e depois, com outros musicos que chegaram, tudo virou samba. A noite foi bonita, cheia de sorrisos e palmas. De vez em quando eu lembrava de olhar pra senhorinha e via que ela estava com os olhos semi-cerrados, num cansaço que dava pena de ver!
No dia seguinte acordo e recebo uma mensagem da pianista, agradecendo a minha presença na noite anterior. Eu é que tenho agradecido a presença dela na minha vida.

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