quem sou eu

9.8.10

des-pre-ten-der

quero  publicar um livro. nao para ter o prestigio de ver a capa na vitrine da livraria que tem o cafe' mais bacana da cidade; nao pra sair na critica do jornal mais lido da cidade, ensaios perfeccionistas feitos por aqueles escritores terceirizados que fumam feito chamine. quero publicar um livro para poder apreciar seu meio, seu feitio, passar horas, noites, alvoreceres, entardeceres preenchendo paginas, buscando palavras no fundo do cerebro, la dentro onde quase ninguem tem acesso, onde a abundancia de pensamentos jorra incessantemente como fonte em praca publica.
a trama sendo tecida fio por fio, linha por linha, em paragrafos maiores, em capitulos com nomes de lugar, de objeto, de pornografia. quantas serao as historias de amantes dentro da vida do personagem que o narrador quiser inventar. tudo que ele quiser viver e encontrar no futuro, tudo que na vida e' sempre um risco de se correr. tudo pode acontecer minuciosamente elaborado, como tudo pode vir a ser uma tremenda coincidencia que ganha certo sentido depois que o tempo passa. Ou na hora mesmo em que esta' se passando.

Um grande sabio disse-me outro dia que o tempo esta' sempre la, quem passa somos no's. que o tempo nao se segura e que muito menos somos segurados por ele. me proferia estas palavras com um sorriso despretencioso exatamente quando ele chegou na estaçao de trem onde eu o esperava em tom bufante e inquieto, estive a conversar com meus pes de um lado pro outro na curta porem longa espera, xingando nao sei quantas palavras porque ele estava fazendo-me atrasar para um ensaio. quando ele terminou sua curta sentença, virei-me, dei-lhe as costas, desci as escadas, com um ligeiro riso sinico. Ainda esbaforida, tinha de comprar o bilhete do trem. Acaso ou sorte, quando sentamos no vagao, o tempo juntou-se a no's, na mesma velocidade do trajeto, no mesmo batimento do peito. Entao o grande sabio recitou poemas, contou piadas, leu versos, entoou proverbios, apontou o dedo para cima e colocou as maos sobre as minhas.

Um outro grande poeta me escreveu: o tempo e' gordo. acreditamos tanto na precisao com que devemos usa-lo, entretanto de repente nos damos conta de que aquela pressa toda ja virou outra profissao, outro filme, mais um filho, outro livro, mais uma viagem e que assim tudo e' passivel de acontecer. Esse mesmo poeta ja pensou o que um dia eu lhe propus; publicarmos uma coletanea de poemas-temas - como por exemplo, poemas cujos versos tem apenas e sempre a mesma consoante inicial. sao feitos de palavras e frases inteiras que metaforizam a imagem ao que se pretende dizer em certa poesia. Ha alguns anos nos demos conta, fazemos assim: um mesmo momento por no's vivido vira verso na mao do outro e sempre temos uma variacao de abordagem do mesmo tema. Por isso poemas-temas.

Enquanto vou conhecendo o mundo, abraço novamente quem nele pisa. Reencontro de outras almas, camas de lençol amarelado, colchao velho de molas e paredes descascadas. Mas na varanda sempre ha flores enquanto nao faz muito frio. Na estaçao do  frio elas secam, na primavera renascem, como um milagre. Com um miraculo de gotas cintilantes e bordadas, com som de gotas de orvalho na gruta pouco iluminada, transparencia da agua, escuridao do buraco. No tunel de meu ventre habita uma serpente. Ela no entanto dorme enquanto o tocador nao vem armar a tenda de seu circo. Ela participa do espetaculo quando ele vem. Ela nunca sabe quando ele vai vir, mas ele sempre diz que um dia chega.

Assim chega mais um dia, mais uma noite se vai. Mais uma pagina pode vir a ser completada. O tempo e' largo e os sonhos mais ainda.

Um comentário:

Alzira Sterque disse...

Publique na Bookess.com:

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Lá vc autopublica>Eles formatam, colocam capa e vc ainda recebe , de 1 a 1 milhão de exemplares em sua casa, a preços baixos, basta pedir.
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