quem sou eu

6.12.07

casa de maria



a casa de Maria
tem varanda com flor
abélia, lírio, azulzinha
vaso de margarida
canteiro de rosa
miúdo jasmim

o jardim da casa de Maria
tem árvore cerejeira
castanha, castanheira
limoeiro e oliveira
nasce uva na parreira

na horta da mãe de Maria
cresce pomodorino verde e vermelho
pimentinha e pimentão
alcachofra tamanho pequeno
salsinha o verão inteiro

da janela de casa
Maria vê a montanha
alta e verdejante
de Borgo São Lourenço
branca com a neve
quando cai o inverno

da porta da cozinha
late o cão que Maria cria
tem pêlo escuro
das noites sem lua
tem olhos grandes
pra ver a rua

acena do portão
ao vilarejo Maria
é Lucco de Mugello
onde passa seus dias
de descanso
leva os amigos
que acreditam que paz
e passarinhos podem reinar
por todos os cantos.

em sua terra ela ainda muito ressoa



Ela repousa sob os braços que se modelam para abraçá-la.
Pode ser boneca por ser adorada pelos que a têm no colo. É uma senhorita com elegância e respeito que uma donzela gosta de instruir. Esbanja charme e junto com ele esparrama beleza e trejeitos tão únicos que se interceptam com a velocidade dos dedos mas também com o som de um lento respirar. Ela pode ser vermelha se for sanfona, ele pode ser escuro se for um acordeon.
Tão peculiar e complexo, esse instrumento vem chamar atençao do olhar do passante, do passante que anda, passeia por muitos países e encontra em todos os foles de povos diferentes, a sua unidade e também a sua diversidade. Ela é única. Ele só pode ser tocado se houver um casamento; quando casam movimentos do corpo, de cada parte pequena, dedos, mãos, num crescente ante-braços, bíceps, ombros, escápula, dorso e seu segmento ascendente ao pescoço. Casam-se pensamentos e capacidades, sentimentos e improvisos, melodias e harmonias, timbres e tons, amor e dor, dança e lentidão, sonho e sonorização. É o casamento de todos os elementes presentes, oriundos da comunhão harmônica, que fica perto do coração.

O carregar da sanfona na Itália traz a sensação de que é a melhor companhia para uma praça com sol, para uma rua de pedras com pés que pisam todos os chãos, para um céu que se abre em azul e sobrevoa o tempo que existe na música em execução. É bonito de ver os mais velhos com sabedoria a distraírem-se com ela no colo, ouvindo suas próprias canções, que provavelmente continuam a dar sequência à uma tradição de gerações, e que permanece no seu berço madrigal, popular e oral. Está sempre nos braços dos que acariciam o povo sem tocá-los efetivamente, mas cobrindo-os com uma manto de saudação.