quem sou eu

31.7.06

como se desmancham os castelos de areia

mais que água de uma onda insana, mais que vento soprando do leste, uma pisada fenomenal na obra com passos pesados de grandes pés.
se disser que o desejo virou grão, talvez seja mentira. se quiser acreditar que uma ilusão tem mais vida prolongada que momento real, não é ficção. a verdade está na atitude de quem a toma. se aparecesse nua, ele certamente arrancar-lhe-ia os cabelos. mas quando está com roupa, finge não vê-la. sai de cena.
sentir a presença no canto do olho seria mais que deleite [a prova de que se pode agradar quando basta estar por perto] mas ele desaparece com elegância e sua sombra luminosa já não pode ser vista na tarde sem sol.
os meninos perdem o melhor de uma paixão, aquilo que arde e explode dentro do ventre. quando não se aproveita, desperdiça-se. fantasia e dor se misturam em cores inflamadas. e num piscar de olhos, adeus amor.

22.7.06

oomm

foi um vendaval no jardim noturno.
arrancou raízes, fez desabrochar flores de todos os tipos. esmiuçou toda a terra em pequeníssimos grãos que continham temor e ardor. perfumou e asfixiou as plantas todas. desenterrou sementes vazias e ocultas que dormiam no solo profundo. tudo ficou incrivelmente revirado, mais que poeira no ar. uma névoa de desejo sobrevoando as noites com lua, comprimindo a face contra a ilusão.
foi mais que um brilho na retina, cegou a visão. vedou o que não se podia sonhar.

agora estão todos passeando pelo quintal. sem vontade de chegar em lugar algum. nem de fugir, nem de se enterrar novamente. estão simplesmente livres, vadiando no terreno que lentamente se recupera. que vagarosamente recolhe suas sementes outrora lançadas com ímpeto pra qualquer direção. vão divagar um pouco, olhar pro céu, tentar contar estrelas...

17.7.06

manda a saudade ir
que eu não vou com ela
eu fico aqui e lá vai ela...

3.7.06

Futebol de adrenalina

Como uma bola de fogo em disparada pra todos os lados dentro de um espaço delimitado, ela toca cada canto deste território feito de matéria palpável.
Escorre solta pela grama verde ou pelas veias enraizadas em muitos corpos e mentes. Acompanha-se seu girar no pé de quem ataca, no pulsar de quem assiste, participa, decide. Ela quase escapa de vista, voa alto, salta do olhar e atravessa a língua que está dominada por essa energia rasteira, cambiante e intensa.
A bola e a adrenalina são irmãs de um momento inflamado, euforia incalculável. Abalam estruturas, rompem linhas imaginárias ou qualquer traço marcado. Perpassam e culminam na rede - do gol, de neurônios. Pra quem assiste, emoção que transpira daquele que chuta a iguaria pro seu destino final. Pra quem sente, os que jogam, tremor veloz turbilhando no campo interno e externo de si. São eles, os que deliram confiantes enquanto uma corrente enlouquecida de vozes ecoa do lado de fora, nas arquibancadas, bancos de devaneios da vida.

Raiz Forte

Se o movimento pede uma cadência, momento da água se espalhar. Deixá-la circular. Em abrangência, a todos os lados rolar. Tempo de limpeza clara, como lençol molhado no varal tomando vento.

Água benta. Pura e iluminada. Lava um coração imperfeito. Leva consigo as manchas de impurezas e dores incolores. Veste-o como uma luva protegendo do frio. Salva-o de sua cor rubro sangue, inundado de inquietações.

A completude de um ciclo; uma a conversa franca e alva como essa água preenche os caminhos que circundam nosso labirinto interno. A boca pede mais que sorrir e mais que beijar. Saber falar. De dentro, daquilo que se sente, se pensa, de tudo que não se entende, não se declara. De sensações truncadas. De desgosto amargo. De tristeza sem culpa.

Somos um caldeirão, laçando chama, borbulhando em vapor. Exalando odor, instigando o outro a provar nosso sabor. Mas um paladar atento sente todas as especiarias de um caldo suculento. Sabe distinguir cada elemento, degustar até os sabores mais excêntricos e apreciar o valor que sai de cada gole sedento. E quem não aprecia, não reconhece a verdadeira raiz, a fonte de onde tudo brota.