quem sou eu

30.1.09

Terra de Santo III

extrai da terra
a rica pureza
do olhar que se distancia
de toda ilusao
que um corpo cria
que a mente alucina
que um coracao dissipa.
dorme nos sonhos
embebidos de luz
e gotas de chuva
umedecendo a lama
verde da cura,
do sabor que a seiva
amacia nos labios
na carne suave
de um corpo sublime.

viram-se na longitude
celeste de um tempo
infindo
amor incondicional
na amplitude
do horizonte eterno
de lacos que transcendem
o espirito e a divindade.

15.1.09

Terra de Santo II

em Terra de Santo
o amor que o peito nao pode sentir
quer morrer
pra ascender-se no divino
ser apenas luz piscante
breve, distante, micropartícula

em Terra de Santo
a flor quer murchar em lentidão
pétala a pétala secando
e perdendo a cor
pra não deixar nenhuma rosa
perfumar o vento

em Terra de Santo
o vendaval vai inundar o buraco
onde todos que ali se protegem
terão de sair um a um
mas serão abençoados com
a chuva incessante

em Terra de Santo
hemos de partir solenemente
seguindo a carruagem da vida
amando quem nos é concedido
no presente que se lança ao
futuro ainda incerto

em Terra de Santo
hei de permanecer
sem memória
sem rancor
sem passado.

11.1.09

Terra de Santo

Há lembranças
que os corpos eternizam
com a sutileza
de uma ponta de luz,
minuciosa luminosidade
dentro de uma imagem
longíqua
quase dissolvida,
quase renascida
na sensação que
toca - com dedos
de cetim, -
um desejo que um dia
persistiu.

Quando o sol imperiou
sob a rosa-bahía,
cintilaram-se os pêlos do corpo todo
ao brilho do amanhecer.

Era ano quatro.

Na cama, um pássaro
me cantou seu hino de estupor,
veio trêmulo e esmiuçado
de pequeno pavor.
Mesmo triste, bonito soou.

Foi a cantiga da claridade
de mais um dia
em terra de Santo.

9.1.09

Descortina do mundo

por onde andam os passos que guiam os olhos
cujas pálpebras semi-cerradas enchergam na escuridão
o vazio da falta de esperança

de quem são os pés magros
que caminham diante da dor
do cenário de sangue, tortura, terror

o olhar traz o mundo dentro
contido como uma semente morta
que caiu na terra e secou na amargura

a lágrima que escorre é pouca
pra lavar a doença que contamina
outros olhos, outros pés, outras vidas

ninguém pode mudar o olhar daquele
que desespera
será?
e aquele vulto que passa no semblante da noite?

é o amor?
sim, trazendo paz
mas vagueando sem por nenhuma porta conseguir entrar.


1.1.09

anoema

um ano
de encanto
de gente que canta
um tanto de entoar
outro canto

um anoecer
na raridade
das partidas
saudades doídas
lamentos enaltecendo ídas

um anominhar
por estradelas
desconhecidas
passos celebram
verdades adormecidas

um anouvar
aos céus com braços erguidos
pelos dons recebidos
e a pureza do amor
de fora adentro
pra fora concebido.