Morrer no mar é doce aos olhos de Caymmi.
É doce ir-se afogar as dores, os apegos, os medos, a ira, o desconsolo, a pena, as palavras não ditas a quem tanto se queria dizer.
Nas ondas verdes do mar é doce o som que emana mais alto que a voz interna, falando consigo mesmo dos absurdos, das culpas, do amigo perdido, que se perdeu de uma amizade que parecia verdadeira, até que veio a onda e varreu com clareza a vastidão do sentimento da ver-d-ade.
No mar docemente morrer o gosto amargo da não despedida, do não-olhar, da cumplicidade que não se teve, que navegou sem destino, pra atrás do horizonte.
Ela se foi com seu jangadeiro, no balanço do mar, na infinitude do verde que se torna azul, sem remos, sem bote, sem vela, sem nada. Seu coração, um vazio preenchido de alguma coisa que não se sabe bem o que é. Amor? Abstração?
Espelho do céu, espuma são como nuvens. Esfumacê das ondas cobre a areia e toca a mata rasteira, encontra o morro, sobe pro céu e se esvai. Calor do sol adentra na areia, aquecida ela despeja tudo no mar.
Os sonhos que o amigo tinha nas mãos, despejo no mar. Onde os despejaria senão no mar? Pra poder voltar amar.