quem sou eu

24.8.06

as mil e uma noites

Se Sherazade tivesse encontrado uma tenda antes do anoitecer no meio do deserto, colocaria seus sapatos na porta de véu e pisaria macio nas sedas bordadas que forravam o chão de areia. Acenderia uma vela pra adorar o seu anjo protetor e acariciaria suavemente o dorso daquele que dormia sonhando até que pudesse acordá-lo em silêncio. No despertar de olhos, contaria histórias milenares para o príncipe que na tenda habitasse e o envolveria em suas canções sutis, contemplativas cantadas de céu sem nuvem e de intenso azul.

Ela não se deparou com a cabana naquela noite, tampouco conhece o habitat que sustenta o singelo templo especialmente erguido para recebê-la, vestida de cetim e cores de carmim. A moça que carrega a luz no seu nome, intui a presença masculina de um amante peregrino, que vive explorando novos terrenos e gosta de sentir o cheiro infestado de uma dama-da-noite.

Ele desmonta e muda sua cabana de lugar, perfaz o deserto de todos os cantos, durante o dia avança lentamente em suas jornadas feitas de passos largos e sua sombra alongada opondo-se ao sol. Ao entardecer escolhe abrigar-se embaixo da estrela mais brilhante da noite e dentro do seu ninho espera por ela, transpira de desejo enquanto ela não vem e nem se dá conta de que ela está no deserto ainda, sem acertar o caminho que a levará ao seu encontro.

Se a história contém um ar fresco, exótico e pleno de encantamentos, os personagens estão envolvidos nesta aura circundante e serão presenteados com o líquido do prazer [quem sabe] assim que o sol nascer.

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