quem sou eu

2.10.08

Ana Terra

Nao fale muito da tristeza que assola o peito, chore as lagrimas de dor, elas precisam escorrer como um rio caldaloso em direcao ao mar, com toda sua furia, com toda sua correnteza, rolando pesadamente sobre a pele macia do teu rosto. Tua face ficara' marcada por todos os sentimentos ruims que por ali passarao e penetrarao em cada poro, deixando um furor queimando de leve as linhas do teu semblante feminino. Desde crianca percebi que chorar e' fazer uma limpeza profunda, que traz toda a vermelhidao do sofrimento e estampa nos olhos tantas impurezas trazidas`a tona. Uma amiga me escreveu que esta' submersa num mar de lagrimas que ela nao chorou e por isso se sente sufocada, a agua dentro provocando um maremoto enquanto a agua colocada fora transborda, escoa, vai sendo transformada ate desaparecer. Transparecem os medos, os desejos perdidos, as ilusoes de todas as noites nao dormidas, as vontades intocadas, a falta de coragem, os receios dormindo na sua cama aconchegante, sem nunca quererem acordar e sair de perto, a culpa que cutuca, a duvida que julga o pensamento do outro, a falta de fe', de animo, de energia pura, de confianca, a cegueira. Tudo transparece em todas as lagrimas que milagrosamente brotam como agua da fonte, sem cessar, durante dias ou noites, tardes e fim de tardes, na solitude ou na doce companhia de alguem que desperta tua sensibilidade de alguma forma.
Pra mim foi assim. Jorrei as lagrimas que nao mais podia, ate' sentir que tudo havia escorrido, que a lagrima havia tornado-se agua pura, como se filtrada apos ter passado tantas vezes pelo mesmo lugar. Nesse dia pouco me olhei no espelho, ou nem me olhei, porque nao queria ficar questionando a razao de tudo isso, de dores que vao se acumulando no peito sem nos darmos conta. Evitei o meu proprio olhar para que evitasse julgar-me como ha semanas vinha fazendo. Apenas o choro e tudo o que nele continha.Apenas o choro regando a terra.

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