quem sou eu

10.10.08

Oleo de mirra com gergelim

Subiamos as escadas de madeira, daquelas que precisa das maos pra dar empulso, os degraus eram distantes um do outro, era preciso segurar firme com as duas maos, uma de cada lado e um pe por vez apoiava no fino degrau e depois o outro. La em cima estava a palha estendida, alguns vasos, pedras, incensos, velas, umas pecas em madeira talhadas a mao, alguns livros sobre astrologia, calendario maia, heiki, medicina chinesa. Da janela de vidro se viam duas torres e o telhado de uma outra casa. O sotao fora construido para ele que queria ficar perto do ceu, no seu oratorio, recebendo a energia do alto. Quando subiamos ali, ficavamos suspensos em algum universo longiquo, nos transportavamos para alem da atmosfera, em alguma camada celeste. Nossa voz baixava de volume enquanto nossos ouvidos ficavam mais sensiveis para escutar a respiracao um do outro, que ia se tornando lisa, serena, profunda. Quando suspiravamos, alguma mao ja tinha procurado tocar em qualquer parte do corpo do outro e quando quem sentia ja se amolecia, relaxando no toque, o outro dizia, "pegue o oleo de mirra com gergelim".Estava iniciada a massagem. As maos de um que percorria os caminhos de veias, musculos, ossos, cavidades, todos sendo massageados com dedos atentos a cada pequena parte do corpo do outro, a cada reacao que certos pontos equivalentes a outras partes do corpo nos pe's ou nas maos provocada. Ficavamos horas, soltando algumas palavras, oras exprimindo reacoes prazerosas, oras dores que se desmanchavam nos dedos do outro, as vezes alguem dava uma risada boa, de alivio ou de deleite. Depois de um longo tempo, fora de qualquer cronometro, um tempo imaginario no qual ambos nos deixavamos levar pela sensacao provocada, e um suspiro em agradecimento era seguido de um sorriso que nao saia do rosto, ficava por entre os olhos, na face iluminada pela luz alaranjada da vela ou por algum raio de lua que vinha de fora. Assim permaneciamos aquecidos pela branda energia que disseminavamos mutuamente, cultivando um calor que nascia no peito e se espalhava pelo corpo e pela mente, como uma onda propagando suas moleculas sem cessar. Nos agradeciamos num abraco ainda com os joelhos sobre a palha. Quando era o momento de descer davam um longo suspiro e sabiam que tinham que voltar pra terra, mas voltavam flutuando, pisando em folhas de flores que brotavam de seuas coracoes.

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