quem sou eu

22.9.09

Contact corpo

sala cheia de corpos estendidos. lentamente se movimentavam, se alongavam, esticavam, faziam curvas, levantavam as pernas, giravam o pescoco. alguns eram tao flexiveis que sem perceber faziam danca antes mesmo da danca intensionada.
uma garota com bracos fortes, costas largas e cabelo curto fazia impulsos com o ventre e lancava as pernas para o outro lado, voltava, apoiava as maos no chao, sustentava seu corpo,entao se reerguia, uma beleza de corpo consistente com a leveza dos movimentos impulsionados por uma forca invisivel mas transparente. era a menina mais bonita da sala.
um rapaz vestia calca rosa-pessego e tinha o cabelo quase raspado. era magro. ficou sentado em posicao de lotus enquanto a sala com os corpos dentro apenas comecava o aquecimento. quando de fato os corpos foram motivados a movimentarem-se pelo "lider", era nitida clareza dos movimentos dele, o olhar sempre 'a frente como se executasse antes do corpo.

a danca comecou com cada qual independente pra depois se entrelacar com outros corpos. pulsos tocando as partes de outros corpos, o pescoco leve, giros, apoio, sutentacao, respiracao. contato. improviso. um corpo interrogando outro corpo, haveriam respostas? como interpreta-las? estavam a dizer sempre a mesma coisa ou outra?

e' quase inexplicavel em palavras e movimentos como seu corpo se identifica com outro corpo nessa linguagem sem olhar e sem fala. de repente alguem toca nas suas costas e voce sente que aquele peso exerce um fascinio no teu corpo e o improviso acontece de os corpos levarem-se pra uma danca que simplesmente acontece.

com alguns corpos, ao contrario isso nao parece acontecer. ha a tentativa de tocar as maos, os pulsos, os bracos. mas o deixar-se receber o peso da outra pessoa, a entrega para um ritmo e uma combinacao, como uma composicao que vai criando forma, permanece na intencao de faze-lo, que e' a intencao da propria aula de contato-improvisacao.

alguns corpos eu deixei que viessem com a danca que queriam dancar, mas meu corpo nao reagiu. poucos outros corpos exerceram o fascinio do movimento, e do toque, o peso, aproximacao e afastamento, ombros e barriga, um suspiro junto. a menina de bracos fortes por duas ou tres vezes encontrou meu corpo. eu recebia o peso dela nas minhas costas e nas minhas pernas e sentia a energia ali contida. o menino de calca roa-pessego tocava seus pulsos e impulsionava meu corpo pra tantos outros movimentos e por tantas vezes deixei a gravidade da terra presente no corpo dele sustentar meu corpo.

houveram momentos de corpos aglomerados e duplas que se comunicavam como se se conhecessem ha muito tempo. um tempo no espaco de outro tempo.

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