quem sou eu

1.4.10

no céu

Ela não está mais aprisionada em sua dor, ela se libertou.
Foi com o sopro do vento forte do jardim de camélias. Foi quando saiu daquele hospital sem cor e com cheiros fortes. Ela vai descansar muito, ela nos deixou compaixão, gratidão, amor, a dor que ainda vai cicatrizar, o gosto amargo da doença que corroeu seu corpo por dentro. Mas sua alma repousa no céu.

Essas coisas são sempre bonitas de se dizer, e elas tem de ser ditas pra que tragam o silêncio eterno e o silêncio dentro de nós mesmos, pra que a serenidade nos conforte. Eu passei a admirar a morte sem sofrimento desde que ela começou a sofrer, há um ano atrás. Mas houve luta; foi bonito. A batalha pra se viver, pra vencer, pra curar, pra conseguir, pra prolongar a vida. Depois da batalha um grande esmagador de esperanças apossou-se de nós todos e dela, comeu a carne, os órgãos, dia após dia, noite após noite, um exagero com um fim.

Minha avó morre em véspera de Páscoa, junto com o Jesus que ela tanto amava. Não deixou de ser uma crucificação tudo isso, tudo que Ela passou e que nós compartilhamos, podíamos apenas confortá-la com nosso calor, nossa compaixão.

Muito querida, minha avó. Cuido das flores de seus vasinhos, pequenino jardim de cultivar amor. Cuido da felicidade que pra ela era tão difícil de abraçar.
O amor não tem fim.

Um comentário:

Estrela Peregrina disse...

Muita luz!!!