quem sou eu

26.8.13

Soundbath

Ele toca com paixão nos olhos, nos dedos, na voz. Ele olha pra dentro de si mesmo enquanto esbanja música pelo corpo, por cada fio de cabelo. O que faz com que a admiração por um  artista seja maior do que pelo outro, é o quão entregue este artista está enquanto faz aquilo. A entrega ao amor, ao presente, ao próprio ato, à cada segundo que acontece diante dos olhos de quem o vê, ouve, e se entrega juntamente.

A entrega de mim mesma naquilo que faço faz o amor transbordar eloquente por cada nota, espelho do que quer dizer a alma, que carinhosamente compôs a melodia, o ritmo, cada pequena parte de um todo. Naquele dia, eu precisava estar concentrada, pensei que o público poderia se conectar com meu olhar, mas eu não podia olhá-los, a execução exigia o foco dentro de mim mesma. A luz era pouca, mas brilhava quando as meninas sorriam. E ao mesmo tempo, o pensamento de deixar-se levar, de estar ali em função da música que preenchia o espaço de dentro e de fora do corpo.

A beleza está também na preparação, na dedicação que ocupa os dias com criatividade, com insistência. Ensaiar, repetir, parar, recomeçar é um processo que caminha com pernas próprias, nem nos damos conta. Mas ao vivo, a conexão consigo mesmo ultrapassa o entendimento racional. É inebriante, lúdico, desafiador. Como equilibrar taças sem deixá-las cair. A noite foi bonita, com gotas de chuva, com banho de som.


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