quem sou eu

30.8.06


...um dia a morena enfeitada de rosas e rendas
abriu seu sorriso de moça e pediu pra dançar...

Rica e sua feitiçaria

o camera dançante diz que na vida encontramos o que queremos buscar, não como mero acaso, e sim como achados que cessam os desejos infindos, deixando-nos plenos.

o contrário de pleno, seria incompleto? insatisfeito? imperfeito?

diz que talvez seja possível matar um desejo e livrar-se dele para ceder espaço a outros, tão valiosos quanto o já saciado.

os desejos não desistem nunca, penso. se perpetuam, precisam ser alimentados e renovados. perder o desejo por aquilo que se acredita ser intenso, murcha a flor da vaidade, núcleo de fertilidade d´onde tudo brota.

ele filma dançando. dança filmando. capta as expressões que vêm de dentro, do âmago introspectivo. através do olhar em movimento, suas telas se preenchem de sentidos, feixes de energia que escapam das vidas focalizadas.

cada vez mais expande sua luz aos figurantes que fazem parte do caldeirão que agrega seu banquete. Todos seremos presenteados com o feitiço que está sendo preparado.

28.8.06

o que se passa na cabeça do leitor

sim, uma conversa com os leitores que aparecem por aqui. acho que chegou a hora e vocês merecem esse olhar meu voltado pra vocês.
afinal um pouco de cada um aparece aqui na tela, um tanto mascarado, claro, outro tanto reinventado mas não absorto de minhas observações! e observar (pra quem escreve a você nesse momento) é extrair a beleza e a feiura de muitos movimentos, ninguém só age com desenvoltura e encantamento o tempo todo. assim como ninguém é de todo deselegante ou deplorável.
não omito a questão crucial presente em muitas literaturas: sugestionar a reflexão do leitor atento. convidá-lo a mergulhar no princípio da idéia que desenhou o texto.
e se parte da arte é inspiração e outra parte é transpiração, há muita energia pra fazer circular da minha mente pra minhas mãos, dos seus olhos pro seu interior.

26.8.06

xico-místico
a frase do anoitecer: "veja bem, dentro da pirâmide não pode entrar o contrário do que se almeja. se existe a pretensão de tornar real o que está no imaginário, descarregue a energia e, insisto, não deseje o negativo do que você quer e não tem."

digerindo comportamentos

- O que você faz de concreto pra realizar seus desejos? - a pergunta veio mesquinha e franca. Ele jamais responderia, nem se pudesse refletir durante muitas horas.
- E o que é não retroceder ou dar o próximo ponta-pé pra mais um teco de caminho? - ainda nesta, ele ficaria pasmo com tal questionamento intrigante e por mais que quisesse, não conseguiria explicar.
Porque poucos sabem ao certo o que é ir pra frente ou avançar mais um sinal, ou pular uma pedra, ou abrir seu próprio caminho.
- O caminho já não está feito e a gente só é conduzido por ele?
- Não!- dessa vez ela responde com a certeza de uma fúria passageira. - Não se sabe de nada, apenas intui-se ou antes disso, acredita-se.
Mas apesar da firmeza de suas palavras, ela ainda hesita na sua afirmação quando pensa "e se a gente custa a acreditar, como intuir?"
Aí não tem mais jeito. Talvez esporadicamente, assim quando você menos espera, alguma coisa aparece no seu caminho e te acompanha por algumas horas e talvez te deixe um bom legado, talvez te ensine que é bom quando não se espera por nada, e pluft! se ganha de presente. (Evidência de que os presentes vem com data marcada por quem os dá e logo você consegue descobrir o porquê dessa oferta exclusiva).

24.8.06

as mil e uma noites

Se Sherazade tivesse encontrado uma tenda antes do anoitecer no meio do deserto, colocaria seus sapatos na porta de véu e pisaria macio nas sedas bordadas que forravam o chão de areia. Acenderia uma vela pra adorar o seu anjo protetor e acariciaria suavemente o dorso daquele que dormia sonhando até que pudesse acordá-lo em silêncio. No despertar de olhos, contaria histórias milenares para o príncipe que na tenda habitasse e o envolveria em suas canções sutis, contemplativas cantadas de céu sem nuvem e de intenso azul.

Ela não se deparou com a cabana naquela noite, tampouco conhece o habitat que sustenta o singelo templo especialmente erguido para recebê-la, vestida de cetim e cores de carmim. A moça que carrega a luz no seu nome, intui a presença masculina de um amante peregrino, que vive explorando novos terrenos e gosta de sentir o cheiro infestado de uma dama-da-noite.

Ele desmonta e muda sua cabana de lugar, perfaz o deserto de todos os cantos, durante o dia avança lentamente em suas jornadas feitas de passos largos e sua sombra alongada opondo-se ao sol. Ao entardecer escolhe abrigar-se embaixo da estrela mais brilhante da noite e dentro do seu ninho espera por ela, transpira de desejo enquanto ela não vem e nem se dá conta de que ela está no deserto ainda, sem acertar o caminho que a levará ao seu encontro.

Se a história contém um ar fresco, exótico e pleno de encantamentos, os personagens estão envolvidos nesta aura circundante e serão presenteados com o líquido do prazer [quem sabe] assim que o sol nascer.

21.8.06

pés molhados

afundaram na lama fresca, seiva derretida de nutrientes brutos, compostos de matéria amolecida, úmida, do fundo à superfície.
foi lama pura, daquelas que deixam a pele mais suave, os pés massageados até o tornozelo, as mãos lambuzadas e a face pintada.
dizem que esse tipo de lama rejuvenesce (em linguagem cosmética), dizem também que revigora (em linguagem macrobiótica) e na linguagem popular, reanima os ânimos!!

18.8.06

embaixo da terra

Como seria acordar de manhã e encontrar todas as soluções pra vida material que nos aflige? haveria a vontade de voltar a sonhar com a matéria que transforma a essência humana num verdadeiro caos? Ou seria o encontro inigualável de sensação branda, cama de algodão recebendo um corpo rígido querendo amolecer e no entanto, sem conseguir.

Fazer uma escolha e depositar sua energia nela até o fim, sem que essa energia cesse antes do fim da escolha...aprendo todo dia o que é perseverar com temperança - duas palavras bonitas, tão pronunciáveis na boca de quem as cultiva, somente na de quem nelas se banham, ou melhor, na boca de quem delas bebem. Deve ser isso, encontrar a fonte que faz brotar fé e serenidade. Antes da escolha, antes de entrar no túnel onde será preciso cavar a saída, carregar a fonte dentro do peito. Jorrando a consciência de que é preciso estar fortalecido pra seguir adiante.

Hoje eu queria descansar desse caminho, mas não dá. Como esse imenso túnel que estão construindo nessa cidade pra facilitar a vida das pessoas, explosões diárias abrem espaço pra mais um pouco chegar onde se pretende. Comparação infeliz dos meus caminhos com a construção de um metrô urbano, mas nesse momento é preciso acreditar que existem muitos outros esforços além do meu.

16.8.06

ao Moisés, que continua a escolher seu caminho

Todas as tardes aquele menino subia no muro como se conseguisse ficar mais próximo de Deus, sentindo a brisa tocar de leve seu rosto de menino que acabou de colher uma fruta madura do pé, que balançou na rede da varanda, que gosta de fechar os olhos e dormir no canto do quarto sozinho. Seus cílios fazem uma curva bonita e se enroscam uns nos outros quando ele pisca.

O menino caminha no muro com passos tranqüilos, mira os campos ao longe e nem se dá conta de que estou a olhá-lo em seu ir e vir no alto de concreto. Estar em cima do muro é observar os dois lados e não querer pular em nenhum deles, porque a partir do momento em que se pula, se perde a visão do alto, de ambas paisagens, do azul próximo do céu e da sensação de estar protegido pelo que está à sua volta. Ele sabe de tudo isso, e fica cada vez com mais medo de ter que sair dali.

Então todos os dias o menino quer refletir sobre o que tanto almeja e entristece; o que tanto angustia e devanece, o que acredita queimar no fogo e nadar no fundo do lago. O menino disse que não dá pra saber o que tanto queima e desaparece na fogueira em chamas, mas ele olha profundamente e, como se olhasse para seu coração, procura encontrar o que tanto arde e não cessa em arder neste tempo de fogo.

E como quando senta na beira do lago e se vê refletido nele, percebe que não é seu corpo que está dentro d´água, mas seus olhos de fora que enxergam através das profundezas de sua alma. Mergulhar na escuridão não é tão difícil quanto sair de cima do muro sem poder escolher uma estrela e guardá-la no seu bolso de menino.

Admiro o menino que às vezes parece esquecer que sua presença é tão serena que transmite paz, sabedoria e um brilho apertado nas pupilas. Ele ainda não se deu conta da sua grandeza apesar de ser ainda um menino magrinho que vai escalar muitos outros muros até finalmente escolher a terra batida pra pisar e criar seu caminho.

14.8.06

light & shadow


ser como a luz, rasante, cambiante, veloz, intensa, certeira e ao mesmo tempo tão solene que pode deitar-se na mesa, preencher a taça com a mais sutil claridade de quem quer enxergar muito além do foco que também cega.

naquele baile repleto de perfumadas nucas

Calada vem a boca
Suave descem as mãos
na espinha dorsal
feita de
blocos de desejo

O calor cresce negro,
logo se interrompe.
Longa pausa: um abraço
Entrelaço de órgãos que meditam

No peito
deitada repousa a cabeça
Os cílios quase dormem
um sono profundo

Depois da bebida,
a dança de todos os dedos
Movimento.
Pés combinam passos
sem tempo marcado

São horas de pura anestesia
De clarinete regando
flores de um baile noturno
Lirismo no coração abandonado
fugindo da vida

Ouvimos música e
visitamos jardins de imagens
Pisamos em ramos molhados

Colhemos pétalas
aos poucos
Beijamos a luz do sol na escuridão
e a sorrir,
aurora pra todos.

12.8.06

homenagem

Ele acredita que sabe conquistar,
fotografa os cinco sentidos
de uma só vez
e depois que revela
sua arte no papel,
pinta a imagem de cores néon
para criar uma ficção
de um momento utópico
e não menos bonito
que o foco prévio
do olhar.

agnelo se por aqui passar...

O dia é cinza e você fotografa a garoa. A luz é vermelha e você extrai o amarelo piscante. Suas musas estão pintadas de branco e preto. São lindas. São olhos dos seus.

8.8.06

milagre dos encontros

se acreditar fosse mais que pisar num chão de nuvens, o céu estaria forrado de estrelas brilhando no meu caminho.seria como receber um sorriso verdadeiro num dia sem luz. ou a notícia de um amigo que se lembrou de você quando foi andar na chuva.
poderia ser ainda uma piscada de canto de olho, daquelas que vem diretamente em segredo pra você, e que ninguém mais vê.

é preciso sim acreditar e ter essa força pra mover as coisas que precisam ser feitas. basta mais que uma voz delicada do outro lado da linha, requer coragem, intuição e uma boa dose de elegância. (os gatos que o diriam, eles conseguem tudo com aquela placidade de andar felino...)

ainda vou agradecer ao mundo por todas as conquistas.

5.8.06

"quando si arriva il tempo, non possiamo mai fare niente"

quando si può volare?



4.8.06

de panelas pro ar



Toda vez que se entra naquela casa, vem um cheirinho assim de quitutes com vontade de serem saboreados. Rondam a sala e os ambientes todos, saem diretamente do forno, da alma de quem os prepara.

O cozinheiro da casa sabe agradar com simplicidade. Basta uma pitada de energia certeira e tudo se dissolve no paladar. Ele diz que não só é preciso ter intento no ato de misturar ingredientes como no ato de apreciá-los, seja com o melhor tempero - a fome, já diziam os antigos - ou com a simples gula do olhar.

E se a panela está no fogo, se as ervas estão lá pra fazer parte da ceia, acrescente um vinho tinto na mesa, sente-se onde o gato não estiver dormindo e derreta-se com o alimento que mantém o corpo ativo e o espírito saciado.

2.8.06

domingo-chuva


se existisse um guarda-chuva para me proteger das gotas pingando expectativas sobre meu dorso e corpo todo, seria vermelho.