quem sou eu

13.11.07

Lua Cheia



Luz, Sombra e Clara estavam perplexas diante dos acontecimentos noturnos de uma praça outrora tão bem frequentada. Falavam baixo as memórias de quem muito ouviu conversas e estórias daqueles que ali se sentaram nas noites de luar, casais românticos nas noites sem luar (noites escurinhas..), crianças que traziam seus telescópios nas noites de lua crescente e davam risada imaginado que estariam vendo a lua aumentar de tamanho lentamente. Ouviram os lamentos de tantos tristes e solitários nas noites de lua minguante e ultimamente, o silêncio permanecia nos bancos vazios, os mesmos bancos que apoiavam traseiros distintos em suas formas, consistência e..volume.
"A garota com laços de fita violeta e caderno cor de setim vinha sempre ao escurecer, escrevia seus contos diários em voz alta, as mais lindas estórias de desencontros que significavam o destino pra ela reservado" disse Sombra. "Ela sentava-se embaixo de mim, acendia uma lanterninha e reconstruía os fatos inserindo julgamentos pessoais. Nada na sua vida poderia ter sido ao acaso, criava as mais profundas explicações para os acontecimentos até os mais corriqueiros. Aprendi uma vez que sua intuição fazia parte do desenrolar de suas escolhas, no fundo ela sempre sabia que aquilo poderia dar certo ou não, se tivesse realmente escutado o que já intuía desde o princípio."
"Sábia menina" - disse Luz "irradiava sabedoria quando refletia sobre seus caminhos...também me lembro daquele velho senhor que todas as manhãs vinha sentar-se à minha frente, fechava os olhos e, depois de muito tempo, descobri que ele meditava". Luz mirou o horizonte ao longe e continuou: "Depois do silêncio, ele entoava umas canções que cantavam um espírito bom, um sentimento simples, um gesto verdadeiro..depois de cantar sorria pro céu e balançava o dorso sentado pra lá e pra cá."
Enquanto Luz e Sombra alternavam suas lembranças, Clara viu-se absorta em seus pensamentos mas logo fez parte da roda: "Tinha um garoto que vinha na madrugada, com latinhas semi-cheias de alguma cerveja importada. Deitava-se no banco e ria de suas travessuras na noite, suas conquistas falidas e palavras desmedidas, depois ficava sério consigo mesmo, dizia que não seria jamais alguém admirável mas desprezível, porque sempre desprezara as pessoas que não riam com ele." Olhou para Sombra e seguiu adiante: "Quando o dia clareava, ele se levantava com os olhos meio enrugados, coçava os cabelos e estendia os braços como num espriguiçar, em seguida, soltava um som junto com sua inspiração e rumava em direção à Sombra e depois à estrada logo adiante".
O que fez com que esses personagens reais desaparecessem daquele cenário tão perfeito pra eles, era a resposta que buscavam os três que, todos os dias ali estavam e faziam parte, de alguma maneira, do universo exterior de todos eles.
"Talvez as pessoas estejam sem tempo pra vir aqui, elas sentem-se cansadas e precisam
percorrer outros caminhos que não se aproximam deste onde estamos" acrescentou Luz. "Ah, mas o tempo pode tornar-se seu companheiro e acho que essas pessoas estão com preguiça de refletir, parar um pouco pra sentir o vento e encontrar outros amigos que se sentam no banco ao lado. Elas perderam a compreensão do que pode trazer-lhes sabedoria pelo simples fato de saber sentir o silêncio" emendou Sombra.
Clara, como sempre absorta em suas divagações, murmurou: "Os espaços estão sempre abertos, o tempo está sempre presente, a Luz, a Sombra vão sempre complementar-se nos caminhos, mas as pessoas estão incoscientes, não conseguem reconhecer que o que elas buscam e fazem todos os dias é o próprio sonho se realizando, no tempo que elas têm como companhia." E no silêncio da noite de lua cheia, repousaram como há muitos anos haviam feito.

Um comentário:

Anônimo disse...

agnelo fotos: www.flogao.com.br/agnelofotos