quem sou eu

16.10.10

Paradeiro

Rumam todos
ao ponto mais alto
do centro da terra,
cesto de mantimentos
equilibrando-se na cabeça,
filhos acomodados nos panos
amarrados pelo corpo
na curva do cocix,
no calor do ventre,
no macio do seio materno
na cela do pescoço alongado do pai
outros filhos maiores vão caminhando
também carregando suas ninharias,
poucas roupas e algumas palhas
nas quais dormem.
não carregam espelho nem brinquedo,
sapatos nem bolsas
vão soltos, mudam de paradeiro
quando a seca chega e a chuva desaparece.
O céu, mesmo ausente de gotas,
 permanece esperança;
talvez pelo azul, talvez pela infinitude.
O trajeto é longo. Vão-se dias.
a paisagem muda de cor
e quanto mais o verde se aproxima,
mais cresce a alegria de saber
a saga chegando ao fim.
Na beira de uma lagoa feita de chuvas passadas,
acomodam suas tendas, seus barros, suas pedras.
Estão a salvo até a seguinte estação
que antecede a seca.
Depois seguem, na vida não se pode parar.

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